11 dezembro 2006

A arca congeladora....derreteu-se

Vou deixar de congelar sentimentos por razões inúteis.
Já não posso mais aguentar os momentos em que eles se deretem e se apropriam de mim com toda a alegria e entusiasmo, mas para logo voltarem a esconder-se no gelo. Dizem que é para me proteger das desilusões.
Estou apaixonada pelos sentimentos frescos, que rego com o olhar e acarinho com palavras.
Não posso ficar como espectadora e deixar que tudo se derreta, se congele, que arda ou evapore ao sabor dos dias.
Assumo aos poucos o que me faz sonhar com o toque doce dos teus dedos ou com o aproximar forte dos teus olhos, que me lêem tão bem. Mas são sei como dizer-te. Não posso dizer porque estaria a repetir tudo o que te mando em sentimentos com cada olhar, cada gesto, cada toque ou, em sonhos, no nosso abraço que ainda não nasceu.

CENSURADO
para não criar confusões, ilusões ou desilusões

03 novembro 2006

12 outubro 2006

Quero-te

Serei sempre eu.
Todos os dias luto para desligar aquela lâmpada, que entristece as cores dos meus pensamentos.
Ela insiste em reacender-se. Aperta-me o coração, depois de entrar em mim rasgando as pupilas com que vejo o belo.
Mas a outra parte de mim permanece. Sonho.
Só consigo amar profundamente, por isso quero tocar mais, abraçar como quem agarra um tesouro.
Quero inalar este sentimento até fechar os olhos, para os protejer da luz incómoda, e entregar-me ao sono nos teus braços.
Estarei a pedir o céu?


23 setembro 2006

Conheço bem este choro

É uma dor que sai de um sorriso.

06 setembro 2006

Partilha de inquietude

Uma vida a construir muralhas com a massa das experiências, muitas arrancadas com dor, algumas com prazer.
Os dias expurgam esta inquietude sempre que acordo, num sobressalto que me tira o ar e acelera a pulsação. Mas sinto sempre que sinto, mesmo por pouco o muito.
Reconheço além a mesma construção, alicerçada em vivências e ambições. Vejo alguma da mesma inquietude, mas alheada de toda a envolvência humana, de todo o sentimento para além do que nutre por si mesmo. Um umbigo grande, tão grande que dá para cair lá dentro.

05 setembro 2006

História de criança

Quem não sabe onde pertence vai sabendo estar em todo o lado. Aprendi cedo.
Na minha infância houve um campo de papoilas vermelhas e frágeis. Foi lá o primeiro sitio onde aprendi a estar. Cheguei pela mão do meu pai e corri por entre as flores, mas elas perderam as pétalas. Quis oferece-las de presente à minha mãe e colhi-as. Ao chegar a casa só tinha os caules. Ela riu...eu chorei. Fui aprendendo a apreciar a sua beleza ao longe, se lhes tocava desfaziam-se em pedaços cor de fogo num chão de feno.
Percebo agora que nessa manhã de domingo, era eu ainda criança, aconteceu pela primeira vez uma constante nos meus afectos. Encanto-me, apaixono-me quero tocar com todo o sentimento, mas desfaço tudo onde ponho as mãos. No entanto, continuo a não me contentar com a contemplação, pelo menos quando fecho os olhos e nos imagino a correr por aquele campo sem fazer cair as pétalas das papoilas.

13 agosto 2006

The dream














Dali



11 agosto 2006

No comments

Palavras desenhadas, escolhidas, cortadas, articuladas, recortadas, trocadas, embrulhadas e amassadas dizem segredos sem os revelar.
Palavras, frases, textos e prosas em muitos dias, noites, tempestades e verões
sussurram, afagam, falam, esperneiam ou gritam bem alto.
Palavras que querem sempre ser lidas, entendidas e sentidas por isso mostram-se, expõem-se, despem-se de máscaras.

Palavras amargas, por colorir, por ilustrar, por editar ou apenas famintas da sensibilidade doce.
Palavras saem do mais profundo sentir, rasgam a vergonha e enfrentam o medo da multidão só para provocar um comentário, uma expressão ou um gesto afável.
Palavras a sonhar provocar uma explosão de sentimentos, igual na intensidade àquela que as fez brotar e libertar da clausura da solidão e navegar por tão saturado e adverso meio.
Palavras que sabem sonhar alto, sonhar longe, mas que querem continuar na esperança de um dia serem ouvidas em vez de lidas e de obter as respostas ditas em vez de escritas.
Talvez sonhem em vão e se resumam apenas na palavra ilusão...ou talvez não.
Palavras?

09 agosto 2006

Arredondada e balofa

Já passaram alguns anos desde que ela chegara embrulhada no celofane, novinha em folha, com as penas bem esticadas na barriga e com todos os vincos no sítio certo.

A primeira fronha que a adornou ainda tinha uns motivos juvenis, a denunciar alguma juventude, tal como os dois bonecos meio escondidos numa decoração que ia no encalço da idade adulta.

Ela é a Almofada Arredondada e Balofa, que vive num quarto por onde já passaram alegrias, tristezas, euforias e desesperos.

Como todas as da sua espécie vive para almofadar insónias e tranquilizar o sono. Mas, ao contrário de todas as outras, não tem sido arma de arremesso nas guerras que aquecem os ímpetos dos amantes, nem o descanso onde eles se deixam cair exaustos.

A Almofada Balofa é solitária. E gosta de ser. Vive nos sonhos que absorve toda a noite para respirar e conhece os segredos mais secretos, os desejos mais arrojados e os medos mais atemorizadores.

Tem dias em que acorda já o sol se pôs e, de novo, se vê esmagada contra um peito dormente de ausência. Antes de adormecer, afaga os cabelos da cabeça confusa que se deita, como se quisesse retirar-lhe todo o sofrimento e aumentar-lhe as alegrias que por lá vão passando.

Mas hoje era um dia diferente. Ia chegar companhia. A azáfama dos últimos dias, as limpezas de fundo e os lençóis lavados a cheirar a alfazema anunciavam que algo de novo ia acontecer.

Ela vestiu a sua melhor fronha, ajeitou os vincos e esperou, com uma pose estudada quase como se fosse almofada de sala, que algo de novo acontecesse. Duas horas depois, chegou o momento. Acabava de entrar no quarto um ser fantástico, de cuja espécie só tinha ouvido falar nas histórias que a avó Amarfanhada lhe contava.

Parecia vindo de um mundo onde ninguém dorme. Era alto, esguio e tinha um olhar profundo. Era o travesseiro mais elegante e envolvente que já vira. Outros por lá tinham feito breves passagens, mas nunca se tinha criado antes aquele sentimento de conforto e compreensão.

Logo que foi libertado do embrulho que o protegia do pó do mundo lá de fora, rebolou até à cabeceira ajustando-se entre o colchão e a madeira como se aquele tivesse sempre sido o seu lugar.

...

03 agosto 2006

Happy ending?

Tenho um segredo bem guardado nas fundas grutas da ilusão.
Naquelas fracções de segundo em que as pálpebras se fecham ao pestanejar, revelam-se as imagens belas desse segredo, cenas imaginárias, momentos ficcionados pelo coração.
Vejo a melhor compreensão materializar-se em energia, num abraço tantas vezes adiado. Ilumina-se o longo segundo em que os lábios se tocam e os dedos se entrecruzam. O desejo vaporiza-se em prazer na fusão dos corpos quentes...
São de tal maneira envolventes os filmes que pestanejo, que sinto a tentação de manter os olhos bem fechados e deixar desvendar o enigmático final da história, tal como se fosse aquele saborear lânguido do doce favorito.

26 julho 2006

Sobe

Sobe o mercúrio nos termómetros da imaginação.
Transparecem na túnica branca os desejos mais ousados fermentados pelo verão.
A túnica cai, como o último despojo de pudor. Com o toque a nú, longo e leve, a pele arrepia-se e aquece.
Cresce a vontade de te tactear cada poro, beijar cada pedaço de ti, massajar como quem sobe, nasce de novo e grita.

20 junho 2006

Melodia doce

Mais um dia que passa e so penso em subir pelas franjas do sonho, de olhos bem abertos.
O que sinto aparece nos meus gestos cada vez mais suaves, nas reacções cada vez mais meigas.
Começo a subida daquele monte verde que cada vez mais almejo.
Do cimo vem uma melodia doce, que me encanta e atrai cada passo.
Se antes não queria ver esse caminho, ocultando-o com arbustos velhos e insistindo em caminhar pelo labirinto, agora só quero correr, perseguir o teu entusiasmo. Subir, subir, deixar-me ir. E encontrar-te num abraço espremido e com aroma de flores silvestres.

20 maio 2006

Destino: sucesso

Saí do escritório quase de noite, debaixo de chuva e com pressa, porque sabia que o avião não esperava por mim.

Deixei tudo para trás: a mala, a roupa, os documentos... apenas levei comigo, dentro do passaporte, uma fotografia de família, indício da minha identidade.

Corri desalmadamente descendo aquela rua escura e escorregadia, que durante anos foi o meu cenário de trabalho.

Espavorido, cheguei mesmo a tempo de embarcar.

Um pensamento ribombava na minha cabeça: é hoje!

Sentei-me no meu lugar, ainda igual a tantos outros passageiros, e deixei-me levar.

Com a ideia de mudança, senti um nervoso na ponta dos dedos.

Tremia, mas com o descolar do avião ninguém notava.

Tranquilizei-me só quando já voava entre as nuvens. Nessa altura, tive a garantia de estar entregue à sensibilidade de profissionais atentos. Descansei.

Durante a viagem, fizemos várias escalas. Saboreei cada uma como ingrediente essencial ao entusiasmo da chegada. Em cada aeroporto, engrandeci a vontade de mudar, o desejo de me afirmar.

Vislumbrei as provas de que posso chegar aonde quero ir.

Quando aterrámos, suspirei em voz alta uma certeza:

Estou no sitio certo. Agora, eu sou eu.

17 maio 2006

Penso que penso

Tenho os pensamentos fragmentados, deslocados, inertes.
Quanto custa não pensar em nada?
Uma caixa de projectos de ser?

Ou uma mala de contentamentos fúteis?
Quanto custa não pensar?

Custa os horrores da mediocridade ou os valores da sociedade ignóbil...quem sabe se custa tão pouco como uma noite dormida em pleno?
Perco-me onde me encontro e choro.
Choro porque não tenho razão para chorar.

Percorro-me porque de vazio estou repleta.
Desfaço-me, refaço-me e adormeço.
Muito para além do sentimento, penso.

06 abril 2006

Bom dia

Uma corrente de ar frio levanta a máscara e deixa-lhe o rosto vulnerável.
Com os olhos semi-cerrados e encandeada,
ela aprende pouco a pouco a sentir o calor da luz intensa.
Deixa-se olhar. Começa-se a mostrar. Permite-se desejar.
Com o quotidiano vai nascendo outra vez, lentamente,
como uma planta frágil a ser regenerada pela luz do sol.
Como a aurora, aquela luz também aparece todos os dias,
para a salvar das armadilhas escuras da noite.

18 março 2006

Momento de receios

Um momento, que do apartamento fez memória,
traz um fervilhar de receios.
Condena o sentimento encarcerado
a ser libertado em desvanecimento.
Vou desvanecê-lo para não ter de o assumir.
Quero mantê-lo fundido no ar aquecido pelo sol
mas manter à flor da pele o desejo do toque.
São utópicas as imagens que receosamente recuso para a realidade,
mas que me fazem feliz enquanto sonho.

Não se fala mais nisso

Dizem que a loucura se satisfaz com a postura analítica continuada.
Portanto, afirmo que estou louca e não se fala mais nisso.

Ciclo

Um passo. Caminho por terra subindo ao sabor do vento.
De repente, encanto-me com um floco de neve alvo, brilhante,
que dança a flutuar no ar cortante.
Na ambição de lhe agarrar a beleza,
estendo-lhe a mão, gelada pelo vento.
Ele deita-se, por momentos,
como quem se aconchega no colo da mãe.
Era belo sozinho, mas o meu calor cresce e desvanece-o.
Desfaz-se, escorre por entre os meus dedos. Cai.
Era nuvem longínqua e alta, foi neve candida de luz,
agora é pingo ou chuvisco...

mas sei que vive num ribeiro que caminha para o mar.

09 março 2006

Questão

Apetece-me embarcar nos carrosséis do entusiasmo
e voar pelas nuvens do encantamento.

Deixar-me levar pelas sensações supérfulas dos momentos alegres
e viver como se elas fossem as únicas.

E por que não hei-de deixar-me ser apenas emoção?
O que me impede de dar o que sinto sem hipotecar a minha existência?
Se a resposta for material, não quero ouvir.
Prefiro continuar a questionar e a sorrir ingenuamente.

07 março 2006

Aprender a escrever

Num desgaste de palavras,
que saem já aturdidas pela insónia,

o meu querer dói bem profundamente.
É um desejo de ter sido,
escrito num almejar dos gostos concretos, que nunca pude ter.

Contento-me a escrever
com a vontade de alguma vez o vir a saber fazer.

Mudar

Quero mudar o espaço exíguo
onde se movem as ideias requentadas.

Sonho alargá-lo à medida,
mas com retalhos suculentos de vida.

27 fevereiro 2006

Queria o mar...

Queria ter a imensidão do mar no pensamento e seguir pelas fragas do contentamento, sem pisar mediocridade.
Queria ir, pé ante pé, pelos corais e pela visão assimilar toda a beleza concretizada com rigor pela natureza.
Queria ficar lá no fundo até salgar; morder o sal como quem trinca pastilha.
Brincar com os cardumes como quem baila em solidão no meio de muita gente.
Queria ser polvo e agarrar todos os sonhos mas concretizar um de cada vez, para poder viver as emoções como quem nada pela primeira vez.
Mas intangível é tudo o que quero do mar porque afinal eu nunca aprendi a nadar.

Na lama

É uma ilusão a continuidade.
Só a sucessão de interrupções
pode garantir a firmeza do futuro.

Como ladrilhos, todos diferentes,
mas que vão compondo o caminho.

Quando faltam, chove o pranto
e formam-se poças lamacentas que toldam as ideias.

Mas há sempre espaço para construir novo caminho,
para encontrar uma nova direcção e contornar a lama.

Dificil é continuar sem pedaços de terra seca
a obstruir o pensamento com recordações.

21 fevereiro 2006

Ficções nocturnas

Há uma força que me prende.
Um não fazer ocioso e incauto.
Sonhar é mais fácil, mais seguro.
Ninguém falha verdadeiramente nos sonhos.
A não ser quando se vê acordar e, de regresso à realidade,
se enlaça de novo na cadeia de acções fúteis e quotidianas.
Quero adormecer com uma ideia cheia de esperança.
Não com a ideia de me concretizar
durante as ficções nocturnas que a minha mente encena.
Antes deitar-me com a vontade de dormir depressa
e acordar refeita do medo. Arriscar.

Sombra e silêncio

São dias e dias de sombra fria, amarga.
Meses de silêncio.
Os sonhos dão à palavra companhia a mesma força da solidão
e amornam as horas mais longas. Um sorriso.
Apressam-se os ponteiros, desvanece-se a conversa, volta a sombra.

20 fevereiro 2006

Loucura ténue

Um desvario de loucura ténue
ou um ataque de fusões mentais;
quem sabe se até uma saudável inconsequência.
Acordo com a mesma noção de nulidade, com a transparência do contentamento sujeito a
caprichos vãos.
A vida desce, desce o labirinto e vai segurando as suas garras no corrimão da escrita.

Abraço irreal

A afectação à sensatez e exigência de actos
mostra-se cada vez mais profunda.
Apartadas de si mesmas,
as ideias escorrem pela tristeza despejada no rosto.
E são cada vez mais longos os despojos da alma.
Tão longos como a consciência de nunca abraçar, na realidade,
o que abraço milhões de vezes em sonho.