20 maio 2006

Destino: sucesso

Saí do escritório quase de noite, debaixo de chuva e com pressa, porque sabia que o avião não esperava por mim.

Deixei tudo para trás: a mala, a roupa, os documentos... apenas levei comigo, dentro do passaporte, uma fotografia de família, indício da minha identidade.

Corri desalmadamente descendo aquela rua escura e escorregadia, que durante anos foi o meu cenário de trabalho.

Espavorido, cheguei mesmo a tempo de embarcar.

Um pensamento ribombava na minha cabeça: é hoje!

Sentei-me no meu lugar, ainda igual a tantos outros passageiros, e deixei-me levar.

Com a ideia de mudança, senti um nervoso na ponta dos dedos.

Tremia, mas com o descolar do avião ninguém notava.

Tranquilizei-me só quando já voava entre as nuvens. Nessa altura, tive a garantia de estar entregue à sensibilidade de profissionais atentos. Descansei.

Durante a viagem, fizemos várias escalas. Saboreei cada uma como ingrediente essencial ao entusiasmo da chegada. Em cada aeroporto, engrandeci a vontade de mudar, o desejo de me afirmar.

Vislumbrei as provas de que posso chegar aonde quero ir.

Quando aterrámos, suspirei em voz alta uma certeza:

Estou no sitio certo. Agora, eu sou eu.

17 maio 2006

Penso que penso

Tenho os pensamentos fragmentados, deslocados, inertes.
Quanto custa não pensar em nada?
Uma caixa de projectos de ser?

Ou uma mala de contentamentos fúteis?
Quanto custa não pensar?

Custa os horrores da mediocridade ou os valores da sociedade ignóbil...quem sabe se custa tão pouco como uma noite dormida em pleno?
Perco-me onde me encontro e choro.
Choro porque não tenho razão para chorar.

Percorro-me porque de vazio estou repleta.
Desfaço-me, refaço-me e adormeço.
Muito para além do sentimento, penso.