13 agosto 2006

The dream














Dali



11 agosto 2006

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Palavras desenhadas, escolhidas, cortadas, articuladas, recortadas, trocadas, embrulhadas e amassadas dizem segredos sem os revelar.
Palavras, frases, textos e prosas em muitos dias, noites, tempestades e verões
sussurram, afagam, falam, esperneiam ou gritam bem alto.
Palavras que querem sempre ser lidas, entendidas e sentidas por isso mostram-se, expõem-se, despem-se de máscaras.

Palavras amargas, por colorir, por ilustrar, por editar ou apenas famintas da sensibilidade doce.
Palavras saem do mais profundo sentir, rasgam a vergonha e enfrentam o medo da multidão só para provocar um comentário, uma expressão ou um gesto afável.
Palavras a sonhar provocar uma explosão de sentimentos, igual na intensidade àquela que as fez brotar e libertar da clausura da solidão e navegar por tão saturado e adverso meio.
Palavras que sabem sonhar alto, sonhar longe, mas que querem continuar na esperança de um dia serem ouvidas em vez de lidas e de obter as respostas ditas em vez de escritas.
Talvez sonhem em vão e se resumam apenas na palavra ilusão...ou talvez não.
Palavras?

09 agosto 2006

Arredondada e balofa

Já passaram alguns anos desde que ela chegara embrulhada no celofane, novinha em folha, com as penas bem esticadas na barriga e com todos os vincos no sítio certo.

A primeira fronha que a adornou ainda tinha uns motivos juvenis, a denunciar alguma juventude, tal como os dois bonecos meio escondidos numa decoração que ia no encalço da idade adulta.

Ela é a Almofada Arredondada e Balofa, que vive num quarto por onde já passaram alegrias, tristezas, euforias e desesperos.

Como todas as da sua espécie vive para almofadar insónias e tranquilizar o sono. Mas, ao contrário de todas as outras, não tem sido arma de arremesso nas guerras que aquecem os ímpetos dos amantes, nem o descanso onde eles se deixam cair exaustos.

A Almofada Balofa é solitária. E gosta de ser. Vive nos sonhos que absorve toda a noite para respirar e conhece os segredos mais secretos, os desejos mais arrojados e os medos mais atemorizadores.

Tem dias em que acorda já o sol se pôs e, de novo, se vê esmagada contra um peito dormente de ausência. Antes de adormecer, afaga os cabelos da cabeça confusa que se deita, como se quisesse retirar-lhe todo o sofrimento e aumentar-lhe as alegrias que por lá vão passando.

Mas hoje era um dia diferente. Ia chegar companhia. A azáfama dos últimos dias, as limpezas de fundo e os lençóis lavados a cheirar a alfazema anunciavam que algo de novo ia acontecer.

Ela vestiu a sua melhor fronha, ajeitou os vincos e esperou, com uma pose estudada quase como se fosse almofada de sala, que algo de novo acontecesse. Duas horas depois, chegou o momento. Acabava de entrar no quarto um ser fantástico, de cuja espécie só tinha ouvido falar nas histórias que a avó Amarfanhada lhe contava.

Parecia vindo de um mundo onde ninguém dorme. Era alto, esguio e tinha um olhar profundo. Era o travesseiro mais elegante e envolvente que já vira. Outros por lá tinham feito breves passagens, mas nunca se tinha criado antes aquele sentimento de conforto e compreensão.

Logo que foi libertado do embrulho que o protegia do pó do mundo lá de fora, rebolou até à cabeceira ajustando-se entre o colchão e a madeira como se aquele tivesse sempre sido o seu lugar.

...

03 agosto 2006

Happy ending?

Tenho um segredo bem guardado nas fundas grutas da ilusão.
Naquelas fracções de segundo em que as pálpebras se fecham ao pestanejar, revelam-se as imagens belas desse segredo, cenas imaginárias, momentos ficcionados pelo coração.
Vejo a melhor compreensão materializar-se em energia, num abraço tantas vezes adiado. Ilumina-se o longo segundo em que os lábios se tocam e os dedos se entrecruzam. O desejo vaporiza-se em prazer na fusão dos corpos quentes...
São de tal maneira envolventes os filmes que pestanejo, que sinto a tentação de manter os olhos bem fechados e deixar desvendar o enigmático final da história, tal como se fosse aquele saborear lânguido do doce favorito.