18 março 2006

Momento de receios

Um momento, que do apartamento fez memória,
traz um fervilhar de receios.
Condena o sentimento encarcerado
a ser libertado em desvanecimento.
Vou desvanecê-lo para não ter de o assumir.
Quero mantê-lo fundido no ar aquecido pelo sol
mas manter à flor da pele o desejo do toque.
São utópicas as imagens que receosamente recuso para a realidade,
mas que me fazem feliz enquanto sonho.

Não se fala mais nisso

Dizem que a loucura se satisfaz com a postura analítica continuada.
Portanto, afirmo que estou louca e não se fala mais nisso.

Ciclo

Um passo. Caminho por terra subindo ao sabor do vento.
De repente, encanto-me com um floco de neve alvo, brilhante,
que dança a flutuar no ar cortante.
Na ambição de lhe agarrar a beleza,
estendo-lhe a mão, gelada pelo vento.
Ele deita-se, por momentos,
como quem se aconchega no colo da mãe.
Era belo sozinho, mas o meu calor cresce e desvanece-o.
Desfaz-se, escorre por entre os meus dedos. Cai.
Era nuvem longínqua e alta, foi neve candida de luz,
agora é pingo ou chuvisco...

mas sei que vive num ribeiro que caminha para o mar.

09 março 2006

Questão

Apetece-me embarcar nos carrosséis do entusiasmo
e voar pelas nuvens do encantamento.

Deixar-me levar pelas sensações supérfulas dos momentos alegres
e viver como se elas fossem as únicas.

E por que não hei-de deixar-me ser apenas emoção?
O que me impede de dar o que sinto sem hipotecar a minha existência?
Se a resposta for material, não quero ouvir.
Prefiro continuar a questionar e a sorrir ingenuamente.

07 março 2006

Aprender a escrever

Num desgaste de palavras,
que saem já aturdidas pela insónia,

o meu querer dói bem profundamente.
É um desejo de ter sido,
escrito num almejar dos gostos concretos, que nunca pude ter.

Contento-me a escrever
com a vontade de alguma vez o vir a saber fazer.

Mudar

Quero mudar o espaço exíguo
onde se movem as ideias requentadas.

Sonho alargá-lo à medida,
mas com retalhos suculentos de vida.