23 setembro 2006

Conheço bem este choro

É uma dor que sai de um sorriso.

06 setembro 2006

Partilha de inquietude

Uma vida a construir muralhas com a massa das experiências, muitas arrancadas com dor, algumas com prazer.
Os dias expurgam esta inquietude sempre que acordo, num sobressalto que me tira o ar e acelera a pulsação. Mas sinto sempre que sinto, mesmo por pouco o muito.
Reconheço além a mesma construção, alicerçada em vivências e ambições. Vejo alguma da mesma inquietude, mas alheada de toda a envolvência humana, de todo o sentimento para além do que nutre por si mesmo. Um umbigo grande, tão grande que dá para cair lá dentro.

05 setembro 2006

História de criança

Quem não sabe onde pertence vai sabendo estar em todo o lado. Aprendi cedo.
Na minha infância houve um campo de papoilas vermelhas e frágeis. Foi lá o primeiro sitio onde aprendi a estar. Cheguei pela mão do meu pai e corri por entre as flores, mas elas perderam as pétalas. Quis oferece-las de presente à minha mãe e colhi-as. Ao chegar a casa só tinha os caules. Ela riu...eu chorei. Fui aprendendo a apreciar a sua beleza ao longe, se lhes tocava desfaziam-se em pedaços cor de fogo num chão de feno.
Percebo agora que nessa manhã de domingo, era eu ainda criança, aconteceu pela primeira vez uma constante nos meus afectos. Encanto-me, apaixono-me quero tocar com todo o sentimento, mas desfaço tudo onde ponho as mãos. No entanto, continuo a não me contentar com a contemplação, pelo menos quando fecho os olhos e nos imagino a correr por aquele campo sem fazer cair as pétalas das papoilas.